ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DE SINTOMAS E VISITAS MÉDICAS EM PACIENTES COM LÚPUS NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: UM SURVEY ELETRÔNICO
Resumen
Introdução: O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença crônica e autoimune de natureza inflamatória, com etiologia desconhecida e fisiopatologia multifatorial. Manifesta-se de diversas formas, abrangendo desde problemas cutâneos e musculoesqueléticos até falência de órgãos, além de apresentar períodos intercalados de surtos e remissões. A Hidroxicloroquina (HCQ) e a Cloroquina (CQ) são medicações globalmente utilizadas no tratamento do LES. O distanciamento social durante a pandemia do COVID-19 pode ter interferido na assistência a pacientes com LES, influenciando na continuidade do tratamento da doença. Objetivo: Avaliar a percepção dos sintomas e assistência médica recebida em indivíduos com LES durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Métodos: Estudo transversal, observacional e retrospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amapá sob número de parecer: 3.287.635, que utilizou dados de um questionário semi estruturado, respondido por voluntários com LES, o mesmo foi divulgado diretamente à associações de doentes com LES no Brasil, onde foram coletadas informações sobre a doença, tratamento em andamento e sobre COVID-19, no período de 2020 a 2023. Realizou-se a análise estatística descritiva (médias e desvios-padrão) e inferencial utilizando-se o teste Kolmogorov-Smirnov para verificar a normalidade dos dados e o teste Qui-quadrado para análise de associação entre as variáveis. O nível de significância de 5% foi adotado. Resultados: No período 534 participantes com diagnóstico de LES, das cinco regiões do Brasil responderam ao questionário, com média de idade de 37.3+10.3 anos, grande maioria do sexo feminino 516 (96,6%), 217 (40,6%) com ensino superior completo e 169 (31,6%) com ensino médio completo. Identificou-se que 357 (66.9%) indivíduos relataram apresentar o LES controlado. Quando indagados sobre a realização de acompanhamento com médicos reumatologistas, 492 (92,1%) responderam que sim, enquanto 42 (7,9%) responderam que não. Com relação à pergunta sobre o possível acompanhamento com fisioterapeuta, apenas 56 (10,5%) responderam que sim, enquanto 478 (89,5%) responderam que não. Questionados sobre o aumento dos sintomas durante a pandemia e distanciamento social, 358 (67%) relataram que houve aumento e 176 (33%) relataram que não houve. Os resultados apontam ainda uma associação direta entre a desmarcação de consultas com o médico reumatologista e o aumento de sintomas percebidos pelos doentes (OR=1,89 / IC=1,31 -2,74). Conclusão: No presente estudo foi possível verificar que houve um aumento dos sintomas da doença na percepção dos pacientes brasileiros, durante a pandemia de COVID-19. O distanciamento físico e social pode ter atuado como fator determinante nesse aspecto, relacionando-se ao medo de contrair a infecção pelo coronavírus. Observou-se ainda, uma associação significativa entre a ausência das consultas médicas e o agravamento dos sintomas relatados durante o período pandêmico.