Prevalência de Sintomas Musculoesqueléticos em uma População de Trabalhadores de uma Cozinha Industrial: Estudo Observacional e Transversal
Resumo
CONTEXTUALIZAÇÃO: Trabalhar em uma cozinha industrial envolve tarefas altamente repetitivas (Subramaniam et al., 2018) e posturas corporais inadequadas, como inclinação anterior do tronco e uso intensivo dos membros superiores (Ono et al., 1998). A combinação de pressão por tempo, temperatura elevada e carga física de trabalho pode aumentar o risco de desenvolver Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORTs), prejudicando a qualidade e produtividade do trabalhador. Uma forma viável de mapear a prevalência de sintomas físicos é através do Questionário de sintomas Musculoesqueléticos Nórdicos (Kuorinka et al., 1987) que conta com 4 questões, sendo elas: o tempo do problema no período de 1 ano (P1); se houve limitação nas atividades diárias decorrente do problema relatado (P2); se o participante procurou um profissional da saúde para o problema (P3) e se o participante sentiu problemas na semana anterior (P4). Os fatores de risco para DORTs em cozinhas industriais variam conforme o país e as respectivas condições de trabalho. A prevalência pode chegar a 90,6% no Egito (Abdelsalam et al., 2023), 87% na Finlândia (Haukka et al., 2006) e 85,2% em Taiwan (Chyuan et al., 2004), demonstrando a necessidade de mais pesquisas e melhorias nesse ambiente laboral. Entretanto, existem lacunas de estudos que mostram a prevalência de sintomas dolorosos em diversas ocupações, uma delas sendo a de trabalhadores de cozinhas industriais dentro de hospital terciário. OBJETIVOS: Checar a prevalência de sintomas musculoesqueléticos numa população de trabalhadores de uma cozinha industrial de um hospital terciário. MÉTODOS: Este é um estudo observacional e transversal com funcionários de uma cozinha industrial sob o CAAE (76998823.0.0000.5440). A coleta de dados foi realizada através de convite verbal de participação, seguido pela realização de entrevista e aplicação de questionários sociodemográfico, função de membros superiores (QuickDASH) e mapeamento de dores musculoesqueléticas (Nórdico). A estatística descritiva foi feita através do software R (versão 4.2.3). RESULTADOS: A amostra contou com 104 participantes (78 mulheres; 26 homens), com idade média de 51 anos (DP: 12,5 anos), QuickDASH médio de 24,78 (DP: 20,26) e as 3 regiões mais acometidas: ombros (P1: 47%; P2: 28%; P3: 15%; P4: 34%), mãos / punhos (P1: 45%; P2: 24%; P3: 13%; P4: 29%) e trapézios (P1: 43%; P2: 18%; P3: 8%; P4: 17%). CONCLUSÕES: Comparativamente com estudos prévios e de outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento como o Brasil, observamos que os resultados deste estudo mostram uma prevalência menor de sintomas musculoesqueléticos de trabalhadores de uma cozinha industrial. Estes dados devem ser interpretados com cautela, pois não é possível generalizar para todas as cozinhas que operam dentro de hospitais e, considerando que as condições de trabalho não são similares em outros países. Mais estudos em diferentes regiões do Brasil são sugeridos para uma análise mais abrangente do panorama nacional. IMPLICAÇÕES: O uso de instrumentos de medida padronizados de funcionalidade e de sintomas do membro superior podem ser incorporados na avaliação de trabalhadores, visando detectar dor e desconforto. Desta maneira, ações preventivas e de reabilitação específicas possam ser implementadas na abordagem das lesões musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho.