Comunicação e Aliança Terapêutica durante a Avaliação Fisioterapêutica no Desporto Surdo Brasileiro
Resumo
CONTEXTUALIZAÇÃO: A comunicação e a construção de uma aliança terapêutica são elementos centrais na prática fisioterapêutica. No contexto do Desporto Surdo, essas dimensões se tornam ainda mais relevantes, uma vez que a população surda apresenta especificidades linguísticas e culturais que impactam diretamente no processo terapêutico. Estudar esses aspectos pode contribuir para estratégias mais inclusivas e eficazes no cuidado aos surdoatletas. Apesar do crescimento do desporto surdo no Brasil, ainda há lacunas importantes no que diz respeito à formação dos profissionais de saúde para atuação com esta população, especialmente no que se refere à comunicação terapêutica e construção de vínculo. OBJETIVOS: O objetivo deste estudo foi analisar os desafios e estratégias relacionados à comunicação e ao estabelecimento da aliança terapêutica entre fisioterapeutas e surdoatletas durante a avaliação fisioterapêutica no Desporto Surdo Brasileiro. MÉTODOS: Trata-se de um estudo transversal, qualitativo, com abordagem por meio de grupos focais (CAAE n. 58267522.0.0000.5504). Participaram fisioterapeutas brasileiros atuantes no Desporto Surdo há pelo menos 3 meses. Foram conduzidas duas sessões de grupos focais online, via Google Meet, com roteiro de discussão semiestruturado elaborado com base na literatura. As sessões foram gravadas e transcritas na íntegra, garantindo a fidedignidade das informações coletadas. A análise de dados seguiu os princípios da Análise Temática de Conteúdo de Bardin (2016) e a Análise Temática Indutiva de Braun e Clarke (2006). RESULTADOS: Os fisioterapeutas relataram dificuldades na comunicação com surdoatletas, especialmente pela falta de fluência em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e pela ausência de prática constante, que pode comprometer a condução das avaliações. A presença de tradutores e intérpretes de Libras foi vista como essencial para garantir uma comunicação clara. Em relação à aliança terapêutica, os participantes destacaram o desenvolvimento gradual de confiança e empatia. O conhecimento de Libras foi citado como facilitador desse vínculo, e observou-se uma preferência, embora não obrigatória, por fisioterapeutas do mesmo gênero em atendimentos a surdoatletas mulheres. Além disso, os profissionais relataram que estratégias não verbais, como gestos espontâneos, expressões faciais e demonstrações corporais, foram amplamente utilizadas para facilitar a compreensão mútua durante as avaliações. CONCLUSÕES: A comunicação e a aliança terapêutica com surdoatletas enfrentam desafios específicos que exigem preparo técnico e sensibilidade cultural. A capacitação em Libras e o apoio de intérpretes são estratégias fundamentais para potencializar a avaliação fisioterapêutica e promover vínculos mais humanizados e efetivos. A valorização da cultura surda e a escuta ativa também emergiram como elementos essenciais na construção de relações terapêuticas sólidas. IMPLICAÇÕES: Os achados destacam a necessidade de formação em Libras e de políticas institucionais que garantam intérpretes nos contextos esportivos. Tais medidas podem promover uma prática fisioterapêutica mais inclusiva, segura e centrada nas necessidades dos surdoatletas. Além disso, os resultados reforçam a importância de se considerar as dimensões culturais e linguísticas no planejamento de programas de formação continuada para fisioterapeutas que atuam no contexto esportivo adaptado.