FATORES SOCIAIS NA DOR E INCAPACIDADE DE INDIVÍDUOS COM DOR LOMBAR CRÔNICA: UM ESTUDO TRANSVERSAL

Resumo

CONTEXTUALIZAÇÃO: A Dor Lombar Crônica (DLC) é a principal causa de anos vividos com incapacidade no mundo, sendo recomendadas abordagens baseadas no modelo biopsicossocial para seu manejo. No entanto, a influência dos fatores sociais sobre os desfechos de dor e incapacidade ainda é pouco compreendida, já que comumente são reduzidos a aspectos como trabalho e relações familiares. OBJETIVOS: Analisar a associação entre fatores sociais e o nível de dor e incapacidade em pacientes com DLC provenientes do projeto de extensão universitária Movimento. MÉTODOS: Foi realizado um estudo transversal a partir do banco de dados do projeto de extensão universitária Movimento, com pacientes com dor lombar inespecífica há pelo menos três meses e idade de 18 anos ou superior (comitê de ética: 3232102/2019). Foram realizadas análises de regressão com as variáveis sexo, cor, estado civil, escolaridade e ocupação, e os desfechos de intensidade de dor e incapacidade. RESULTADOS: Foram incluídos dados de 336 indivíduos, dos quais 75,5% eram mulheres (48,9 anos; DP±16.7), 57,4% pardas; 36,5% com escolaridade até o ensino fundamental; 39,5% com renda de até um salário mínimo; 61,3% sem atividade remunerada; e 60,4% casadas, viúvas ou divorciadas. A pior intensidade da dor foi associada às pessoas de cor branca (0.349; 95% IC:0.060-0.639), enquanto ter renda familiar entre um e dois salários mínimos  (-0.280; 95% IC:-0.529- -0.031) e renda familiar maior que dois salários mínimos (-0.317; 95% IC: -0.627- -0.006) estava associada a menores níveis de dor. No modelo de incapacidade, a única variável que manteve associação significativa sexo masculino (-0.296; 95% IC: -0.549- -0.042), indicando que ser do sexo masculino esteve negativamente associado à incapacidade. CONCLUSÕES: O estudo evidencia que fatores sociais como raça, renda e sexo influenciam os desfechos de dor e incapacidade em indivíduos com DLC. IMPLICAÇÕES: Os achados reforçam a importância da incorporação dos determinantes sociais da saúde por profissionais de saúde, pesquisadores e gestores públicos. Indicadores como raça, renda e sexo devem integrar a estratificação de risco e orientar intervenções mais equitativas. Pesquisas futuras devem investigar como esses fatores influenciam a experiência da dor e interagem com aspectos psicológicos e biológicos. Cabe a pesquisadores e instituições formadoras, com o apoio de políticas públicas, fomentar o uso de instrumentos clínicos e de estratégias terapêuticas sensíveis ao contexto social dos pacientes.