Fatores Associados à Cinesiofobia em Pessoas com Fibromialgia: Análise de Dados de um Mapeamento Nacional
Resumo
CONTEXTUALIZAÇÃO: A fibromialgia (FM) é uma síndrome complexa caracterizada por dor musculoesquelética difusa, frequentemente acompanhada de distúrbios do sono, fadiga, alterações cognitivas e sintomas psicossociais. Sua fisiopatologia envolve disfunções na modulação da dor, sensibilização central e alterações neuroendócrinas. A cinesiofobia, definida como medo persistente e desproporcional de realizar movimentos físicos devido à antecipação de dor ou lesão, é um fator relevante na perpetuação da incapacidade funcional em indivíduos com dor crônica. Em pessoas com FM, esse medo pode manter o ciclo da dor, promover o descondicionamento físico e piorar a qualidade de vida. OBJETIVOS: O presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência da cinesiofobia e identificar os fatores a ela associados em uma ampla amostra populacional de indivíduos com fibromialgia. MÉTODOS: Projeto aprovado pelo CEP/ Hcpa n° CAAE 83025824.1.0000.5327. Realizamos um estudo transversal com 2.377 portadores de FM, que responderam a uma pesquisa online contendo instrumentos validados para avaliação da dor (Numeric Rating Scale - NRS), impacto funcional (Fibromyalgia Impact Questionnaire - FIQ), sensibilização central (Central Sensitization Inventory - CSI), catastrofização da dor (Pain Catastrophizing Scale - PCS) e cinesiofobia (Tampa Scale for Kinesiophobia - TSK). A presença de cinesiofobia foi determinada por escores superiores a 37 pontos na TSK. RESULTADOS: A análise dos fatores associados foi realizada por regressão logística multivariada. Das 2.377 participantes, 2.224 (93,6%) apresentaram cinesiofobia. Em comparação com as demais, esses participantes apresentaram menor escolaridade (anos completos de estudo), maior índice de massa corporal (IMC), maior intensidade da dor (avaliada pela NRS) e escores significativamente mais altos no FIQ, CSI e PCS (todos p<0,001). A análise multivariada indicou que o uso de opioides aumentou em 93% a chance de cinesiofobia (OR=1,930; IC95%: 1,151–3,237). Além disso, a cada ponto adicional nos escores de PCS, FIQ e CSI, o risco de cinesiofobia aumentou em 24%, 6,5% e 7,4%, respectivamente. O aumento do IMC também esteve associado a maior probabilidade de cinesiofobia (OR=1,092; IC95%: 1,046–1,141). Por outro lado, a escolaridade apresentou efeito protetor, reduzindo o risco em 14,4% por ano adicional de estudo (OR=0,856; IC95%: 0,817-0,897). CONCLUSÕES: Os dados do nosso estudo demonstram que a cinesiofobia tem alta prevalência na população estudada e está significativamente associada ao maior impacto funcional, ao aumento da sensibilização central e níveis mais elevados de catastrofização da dor. IMPLICAÇÕES: A presença de cinesiofobia deve ser considerada no planejamento de intervenções clínicas para pessoas com FM, com foco na reabilitação funcional e na modulação de fatores psicossociais. Estudos futuros devem explorar intervenções específicas voltadas à redução da catastrofização da dor e da sensibilização central como estratégias para minimizar o medo do movimento e seus impactos na funcionalidade.Publicado
2025-09-11
Como Citar
CAUMO, W., CRISTIANE JANZ MOREIRA, A., DE MENEZES EHLERS, J., LUFT, T., MAYER DE FREITAS, G., TEIXEIRA LOPES, G., & SOUZA FONTOURA, I. (2025). Fatores Associados à Cinesiofobia em Pessoas com Fibromialgia: Análise de Dados de um Mapeamento Nacional. Anais Do Congresso Brasileiro Da Associação Brasileira De Fisioterapia Traumato-Ortopédica - ABRAFITO, 5(1). Recuperado de https://seer.uftm.edu.br/anaisuftm/index.php/abrafito/article/view/2625
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Resumo