CRENÇAS DE CAUSAS DA DOR EM PESSOAS COM LOMBALGIA CRÔNICA: ESTUDO PRELIMINAR

Resumo

CONTEXTUALIZAÇÃO: A dor crônica é uma experiência individual e um processo multifatorial complexo que envolve fatores biológicos, socioambientais e psicológicos. Quando o estímulo nociceptivo é percebido ameaçador, há uma mudança no comportamento para a proteção da(s) estrutura(s), o que gera o medo relacionado à dor. Isso a longo prazo pode gerar impactos negativos psicológicos e incapacidades funcionais. Entre os fatores psicológicos/cognitivos estão as crenças disfuncionais sobre a condição de saúde, que podem contribuir para a manutenção dos sintomas dolorosos, interferir no seu comportamento e contribuir para incapacidades. OBJETIVOS: Explorar e compreender quais as crenças de pacientes com Dor Lombar Crônica (DLC) sobre as causas da sua dor. MÉTODOS: Trata-se de um estudo qualitativo preliminar, que utilizou os dados das entrevistas pré-intervenção da pesquisa intitulada: “Efeitos de um Programa de Educação em Neurociência da Dor para indivíduos com Dor Lombar Crônica”, aprovado pelo Comitê de Ética da UDESC (4.684.216). Nesse recorte, abordou-se especificamente, os dados relacionados às crenças dos participantes sobre as causas da dor lombar.  Participaram do estudo adultos com DLC e os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais guiadas por um roteiro com questões que exploravam as crenças sobre causas e atitudes que melhoram ou pioram a dor. Para a interpretação dos dados foi utilizado o método de análise de conteúdo temática (abordagem indutiva) e para o processamento analítico dos dados, o software Atlas ti versão 8 foi utilizado. RESULTADOS: Participaram do estudo, sete mulheres, com idade entre 21 e 57 anos. Na análise dos dados, quatro temas centrais foram identificados: (1) Crenças sobre causas estruturais, (2) Crenças sobre causas emocionais, (3) Crenças sobre causas inflamatórias e (4) Crenças sobre causas relacionadas ao estilo de vida.  As crenças sobre as causas da dor lombar concentram-se, majoritariamente, em explicações estruturais, como “desvios posturais”, “lesões” e “desgaste da coluna”, frequentemente associadas ao envelhecimento e à postura inadequada. Também foram identificadas crenças relacionadas a fatores emocionais, especialmente estresse, ansiedade e tristeza, percebidos como gatilhos ou agravantes da dor. Alguns participantes atribuíram a dor a processos inflamatórios, mencionando a alimentação, alterações hormonais e a menopausa como possíveis causas. Por fim, embora de forma menos recorrente, surgiram crenças relacionadas ao estilo de vida, como sedentarismo e falta de movimento. Essas narrativas refletem uma compreensão multifatorial da dor lombar, com ênfase em aspectos biomédicos e psicossociais, ainda que de forma fragmentada. CONCLUSÕES: Os participantes atribuíram a DLC, principalmente, a causas estruturais, mas também a fatores emocionais, inflamatórios e relacionados ao estilo de vida. Apesar de apresentarem uma compreensão multifatorial, suas crenças ainda estão fortemente ancoradas no modelo biomédico, com pouca clareza sobre a interação entre os diferentes fatores. IMPLICAÇÕES: Os achados reforçam a importância de intervenções educativas que ampliem a compreensão dos indivíduos sobre os mecanismos da dor, promovendo uma visão menos centrada em explicações exclusivamente estruturais e incentivando abordagens mais integrativas e biopsicossociais.