Estimulação transcraniana por corrente contínua domiciliar reduz a dor crônica na artrite reumatoide: ensaio clínico piloto randomizado, controlado por sham

Resumo

CONTEXTUALIZAÇÃO:  Pacientes com artrite reumatoide (AR) frequentemente apresentam dor crônica, mesmo após o controle clínico e laboratorial dos sinais inflamatórios. A dor persistente está associada à sensibilização central, processo que amplifica a percepção da dor por meio de alterações na excitabilidade cortical. Frente a essa realidade, surge a necessidade de intervenções não farmacológicas, assim a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), forma de neuromodulação não invasiva que aplica uma corrente elétrica de baixa intensidade através de eletrodos posicionados no couro cabeludo, tem se destacado como uma técnica promissora capaz de modular a excitabilidade cortical e reduzir sintomas dolorosos em diferentes populações. OBJETIVOS: Avaliar a viabilidade da Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) domiciliar em pacientes com artrite reumatoide (AR) de baixa inflamação.    Investigar os efeitos da ETCC sobre a dor crônica nesses pacientes, incluindo medidas de intensidade da dor, funcionalidade, fadiga, sensibilização central, entre outros. MÉTODOS:  Foram incluídos pacientes com diagnóstico de AR, com idade entre 18 e 70 anos, que apresentavam baixo grau de inflamação (status inflamatório estável) e queixas contínuas de dor. Os participantes foram randomizados em dois grupos: Ativo (A-ETCC) e Sham (S-ETCC). Cada paciente recebeu 20 sessões consecutivas, com duração de 20 minutos cada uma, de ETCC (2mA), aplicadas em casa, diariamente. As avaliações clínicas incluíram:    Intensidade da dor pela Escala Visual Analógica (EVA, cm);   Limiar de dor à pressão (PPT, kg);   Atividade da doença (DAS28, escore).    Questionários (escore):    Sensibilização central (CSI);   Sintomas depressivos (BDI);   Funcionalidade (HAQ-DI);   Fadiga (FACIT-F);   Dor crônica (B-PCP:S);   Segurança (efeitos adversos);   Adesão ao tratamento domiciliar.   RESULTADOS: Dezesseis pacientes completaram o estudo (A-ETCC, n=8; S-ETCC, n=8). Na Escala Visual Analógica (EVA), o grupo A-ETCC apresentou uma redução de -4,25 ± 3,2 cm(p=0.009), enquanto o grupo S-ETCC registrou uma redução de -1,25 ± 1,2 cm. Houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p=0.003). Ambos os grupos mostraram diminuição significativa após o ETCC em funcionalidade (HAQ-DI), fadiga (FACIT-F) e sensibilização central (CSI), no entanto, não apresentaram diferença significativa entre os grupos (p>0.05). O questionário B-PCP:S apresentou diminuição nos três domínios em ambos os grupos, mas apenas o domínio de frequência da dor apresentou diferença significativa entre os grupos (p=0.009). Não foram observadas alterações no DAS28 e no PPT em ambos os grupos (p>0.05). Os efeitos mais frequentemente relatados foram dor de cabeça, dor no pescoço e sonolência em ambos os grupos. Não foram encontradas diferenças entre os grupos em relação aos efeitos adversos (p>0,05). Todos os pacientes relataram efeitos adversos de baixa intensidade. O grupo A-ETCC completou em média 18,63±2,77 sessões (93%) e o grupo S-ETCC completou 19,50±1,06 sessões (95%). Ambos os grupos apresentaram alta adesão ao tratamento domiciliar. CONCLUSÕES:  Os resultados sugerem que o tratamento diário com A-ETCC em comparação ao S-ETCC é uma ferramenta auxiliar promissora no tratamento de pacientes com AR de baixa inflamação que apresentam dor crônica. Faz-se necessário conduzir estudos mais abrangentes. IMPLICAÇÕES:  Os resultados indicam redução significativa da dor e boa adesão, sugerindo seu potencial como intervenção complementar não farmacológica para o tratamento de dores cônicas.