Relação entre resiliência e dor em mulheres com fibromialgia: análise observacional preliminar.

Resumo

CONTEXTUALIZAÇÃO: A fibromialgia (FM) é uma condição crônica, dolorosa complexa e incapacitante, frequentemente acompanhada de sofrimento emocional significativo. A gravidade dos sintomas, especialmente a dor, está associada com a intensidade de desordens emocionais, o que torna a gestão da FM desafiadora, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico. Os aspectos psicológicos do indivíduo influenciam diretamente a forma como lidam e ressignificam os desafios impostos pela doença. Nesse contexto, a resiliência emerge como fator importante, pois está relacionada à capacidade do indivíduo de superar obstáculos, manter o equilíbrio emocional e adaptar-se às adversidades, o que pode influenciar diretamente a percepção da dor e o enfrentamento da fibromialgia. OBJETIVOS:  Investigar a relação entre níveis de resiliência e limiar de dor em mulheres com fibromialgia. MÉTODOS: Este é um estudo observacional transversal conduzido na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), envolvendo mulheres com diagnóstico de fibromialgia, com idades entre 18 e 60 anos. Foram excluídas participantes com outras condições reumatológicas ou neurológicas graves, gestantes, mulheres em menopausa e aquelas que passaram por cirurgia recentemente. A resiliência foi mensurada por meio do questionário Connor-Davidson Resilience Scale - 10 (CD-RISC-10). O limiar de dor por pressão (LDP) foi avaliado no músculo suboccipital bilateralmente, utilizando um algômetro digital. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software SPSS. Foram aplicados o teste de normalidade (Shapiro-Wilk) e o teste de correlação de Spearman. O nível de significância considerado para as análises foi de 5%. O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar e todas as participantes participaram mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.  RESULTADOS: A amostra foi composta por 25 mulheres. Destas, 25% apresentaram baixa resiliência, 50% indicaram moderada resiliência e 25% reportaram  resiliência alta. Em relação ao limiar de dor por pressão nos pontos occipitais, observou-se média de 0,536 kgf/cm² no lado direito e 0,532 kgf/cm² no lado esquerdo, com desvios padrão de 0,3695 e 0,3326, respectivamente. Observou-se correlação positiva estatisticamente significativa entre os valores de resiliência e o limiar de dor por pressão, bilateralmente. Para o lado direito o teste de Spearman indicou p = 0,416 e p = 0,039  e o lado esquerdo p = 0,466 e p = 0,019.  CONCLUSÕES: Os resultados indicam que mulheres com maior resiliência apresentaram maior tolerância à dor, enquanto as com baixa resiliência tiveram um limiar de dor mais baixo.Esses achados sugerem que a resiliência pode desempenhar um papel protetivo frente à dor, contribuindo para uma maior tolerância ao estímulo nociceptivos e, consequentemente, melhor enfrentamento da condição crônica. IMPLICAÇÕES: Esses achados reforçam a importância de intervenções que considerem não apenas os aspectos físicos, mas também os fatores emocionais e cognitivos que influenciam a experiência da dor. Dessa forma, evidencia-se a relevância de um manejo biopsicossocial, com um olhar multidimensional sobre os sintomas, emoções e desafios vivenciados por essas pacientes.