EFEITOS CLÍNICOS DE INTERVENÇÕES COM CIRURGIA EM COMPARAÇÃO COM INTERVENÇÕES PLACEBO EM DESORDENS MUSCULOESQUELÉTICAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Resumo

CONTEXTUALIZAÇÃO: Condições musculoesqueléticas afetam bilhões de pessoas globalmente. Historicamente, diretrizes clínicas recomendavam medicamentos e, em casos refratários, intervenções cirúrgicas. Ultimamente abordagens não farmacológicas vêm ganhando prioridade. Entretanto o número de cirurgias continua elevado, muitas vezes sem uma avaliação robusta de sua efetividade. OBJETIVOS: Revisar sistematicamente a literatura sobre os efeitos das intervenções cirúrgicas comparadas a intervenções placebo em pacientes com condições musculoesqueléticas. MÉTODOS: Esta revisão seguiu o checklist PRISMA e foi registrada previamente no PROSPERO (CRD42024534187). As buscas foram nas bases MEDLINE (via PubMed), Cochrane, Scopus e Web of Science. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados, envolvendo pacientes com distúrbios musculoesqueléticos submetidos a uma intervenção cirúrgica comparada com um procedimento placebo, com medidas de desfecho relacionadas à dor, incapacidade, função e qualidade de vida. Dois autores selecionaram independentemente os estudos, avaliaram o risco de viés, extraíram os dados e julgaram a certeza geral da evidência usando o GRADE. Nos resultados quantitativos possíveis de serem agrupados em curto, médio e longo prazo foram realizadas meta-análises. RESULTADOS: Foram incluídos 23 estudos, 9  tiveram seus desfechos agrupados e realizados meta-análise. Os estudos foram agrupados em diferentes condições musculoesqueléticas: lesões de membros superiores, lesões de joelhos, dor lombar, fraturas vertebrais e dor sacroilíaca. Dezesseis estudos apresentaram melhora dos sintomas dos principais desfechos analisados tanto no grupo cirúrgico quanto placebo, ou seja, a cirurgia não foi superior ao procedimento placebo. Além disso, um estudo observou que indivíduos que realizaram a cirurgia apresentaram um risco aumentado de desenvolver osteoartrose de joelho. Em apenas 5 estudos (3 sobre dor lombar, 1 sobre fratura vertebral e 1 sobre fratura sacro-ilíaca) o grupo cirúrgico se mostrou mais eficaz do que o grupo placebo. Na meta-análise sobre fratura vertebral, estudos que avaliaram dor a curto e longo prazo não apresentaram diferença significativa entre os grupos (MD=0,42; CI[-0.89,1.73]) e (MD=0.90; CI[-0.06 , 1.87]), respectivamente, já a médio prazo, houve diferença significativa a favor do procedimento placebo (MD=1.19; CI[0.35,2.03]). Sobre o desfecho incapacidade, nenhuma comparação apresentou diferença entre os grupos a curto, médio ou longo prazo (MD=0.94; CI[-1.35,3.24]), (MD=0.81; CI[-3.89,5.52]) e (MD=2.36; CI[-1.46,6.18]), respectivamente. Dois estudos sobre dor lombar foram agrupados a longo prazo e não houve superioridade estatisticamente significativa entre os grupos (MD= -5.00; CI [-11.06,1.07]). Por fim, nos estudos que se referem ao impacto subacromial, a longo prazo não houve superioridade estatisticamente significativa a favor da cirurgia (MD= -3.68; CI [-8.57,1.22]). CONCLUSÕES: Na maioria dos estudos, procedimentos cirúrgicos não foram superiores em comparação com um procedimento placebo, sugerindo a necessidade de reconsiderar a eficácia das intervenções cirúrgicas nessa área. IMPLICAÇÕES: Esses achados destacam a importância de considerar abordagens conservadoras como primeira linha de tratamento. Tais intervenções são menos invasivas, mais seguras e potencialmente mais custo-efetivas. O papel do fisioterapeuta na reabilitação baseada em evidências se fortalece diante desses resultados.