O EFEITO DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA SOBRE A INTENSIDADE DA DOR E DOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS EM BAILARINOS PROFISSIONAIS

Resumo

CONTEXTUALIZAÇÃO: A prática da dança por bailarinos profissionais exige alta performance, gerando sobrecargas osteomusculares. Nesse sentido, a dança pode atuar como fator de risco sobre o aparelho locomotor, provocando dor e processos inflamatórios, comprometendo o desempenho e a qualidade de vida desses profissionais. O tratamento de sintomas dolorosos e inflamatórios é uma constante na fisioterapia aquática, que intervém na prevenção e no tratamento de disfunções e/ou lesões decorrentes da prática desportiva, aproveitando os efeitos fisiológicos e cinesiológicos do meio aquático para promover analgesia e ação anti-inflamatória. OBJETIVOS: Avaliar os efeitos da fisioterapia aquática na dor e nos processos inflamatórios em bailarinos profissionais. Objetivos secundários: quantificar a concentração de citocinas inflamatórias, analisar o limiar de dor e correlacionar com níveis de estresse ocupacional e sintomas osteomusculares. MÉTODOS: Ensaio clínico controlado e randomizado, com avaliadores cegos, envolvendo 30 bailarinos profissionais de Santa Maria (RS), divididos em dois grupos: com fisioterapia aquática (GCFA) e sem fisioterapia aquática (GSFA). Foram incluídos bailarinos >18 anos, com experiência mínima de um ano em dança e presença de dor relacionada à atividade. Excluíram-se bailarinos com lesões não relacionadas à dança e gestantes. A intervenção consistiu em 12 sessões de fisioterapia aquática (3x/semana por 4 semanas). As avaliações incluíram o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), Escala de Estresse no Trabalho (EET), Escala Visual Analógica (EVA) e dosagens séricas de citocinas inflamatórias (IL-1B, IL-6, IL-10, TNF-a, INF-y) por ELISA, em três momentos (basal, pré e pós-intervenção). O projeto não teve financiamento e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Maria (Plataforma Brasil CAAE 70268617.2.0000.5346/ CEP-UFSM 2.199.095, nº 23081.022646/2017-4). Todos os participantes receberam informações sobre os procedimentos e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS: O GCFA apresentou redução significativa da dor (EVA), de 6,5 para 2,0 (p<0,001), enquanto o GSFA manteve médias elevadas (p>0,05). Houve redução estatisticamente significativa nos níveis séricos de IL-1B, IL-6, TNF-a e INF-y no GCFA (p<0,001), com aumento de IL-10 (anti-inflamatória) (p<0,0001), enquanto o GSFA não apresentou alterações significativas nos mesmos marcadores (p>0,05). Em relação ao QNSO, o GCFA teve redução importante nas regiões lombar (80% para 26,6%) e membros inferiores (93,3% para 20%), ao passo que o GSFA permaneceu com altas prevalências (lombar: 66,6% para 73,3%; membros inferiores: 86,6% para 93,3%). Os escores da EET permaneceram estáveis em ambos os grupos (GCFA: 2,59 ± 0,62; GSFA: 2,65 ± 0,78) (p>0,05). CONCLUSÕES: A fisioterapia aquática mostrou-se eficaz na redução da dor e dos processos inflamatórios em bailarinos profissionais, evidenciada por menor percepção de dor e queda significativa nos biomarcadores inflamatórios. Isso reforça seu potencial terapêutico como intervenção complementar. IMPLICAÇÕES: A implementação da fisioterapia aquática na reabilitação e prevenção de lesões em bailarinos pode representar uma estratégia eficaz na prática clínica fisioterapêutica, promovendo melhora na qualidade de vida, desempenho artístico e prevenção de afastamentos por lesão. Além disso, os achados sustentam a incorporação de práticas baseadas em evidências nas políticas de saúde voltadas à população artística e a atletas de alta performance.