Predição da força isocinética dos membros inferiores a partir de testes funcionais em idosos: um estudo transversal
Resumo
CONTEXTUALIZAÇÃO: A força isocinética é considerada o padrão ouro para mensuração da força e da potência muscular. Estudos prévios identificaram uma associação entre a força isocinética de flexão-extensão de joelho com o desempenho funcional e a mortalidade em idosos. No entanto, o alto-custo e o acesso restrito dificultam o uso do dinamômetro isocinético na prática clínica. Dessa forma, vários testes funcionais são empregados devido à sua praticidade e acessibilidade. OBJETIVOS: Explorar a associação e o potencial preditivo do desempenho em testes funcionais para força isocinética dos membros inferiores (flexo-extensão do joelho) em idosos comunitários. MÉTODOS: Trata-se de um estudo transversal envolvendo 140 idosos de 60 à 80 anos (70.3 ± 6.9 anos), de ambos os sexos, mas predominantemente feminino(68.7%). Inicialmente, os participantes foram avaliados com o Timed Up and Go Test (TUG), teste de sentar e levantar da cadeira cinco vezes (TSLC5x) e a força de preensão manual. Na sequência, a força isocinética foi avaliada por meio do dinamômetro isocinético Biodex Medical Systems, na perna dominante. O pico de torque concêntrico-concêntrico foi registrado para flexão-extensão do joelho sentado em velocidade angular de 60°/s. A amplitude de movimento de flexão-extensão do joelho foi definida de 0° a 90°. Análises de correlações determinaram a relação entre os testes funcionais e a força isocinética. A análise de regressão univariada e múltipla identificaram os valores preditivos de testes funcionais, ajustada pela idade. O nível de significância foi estabelecido em 5%. RESULTADOS: Correlações significativas de baixas a moderadas foram encontradas entre a força isocinética e os testes funcionais. Mais especificamente, um melhor desempenho na FPM correlacionou-se com mais força isocinética de flexão (r= 0.61; p<0.001) e extensão de joelho (r=0.61; p<0.001). O TUG e o TSLC5x correlacionaram-se negativamente com a força isocinética de flexão e extensão do joelho, ou seja, 1) mais força isocinética implicando em menor tempo para execução do percurso (Flexão: r=-0.19; p=0.01 / Extensão:-0.35; p<0.001); e 2) mais força isocinética implicando menos repetições e menos potência no teste de sentar e levantar (Flexão: r= -0.26; p=0.002 / Extensão: r= -0.29, p=0.001), respectivamente. Na análise de regressão univariada, a FPM foi preditora da força isocinética de flexão (R2=0.37; beta= 1.62; p<0.001) e extensão de joelho (R2=0.37; beta= 2.43; p<0.001). O TUG e o TSLC5x foram associados apenas a força isocinética de extensão (R2=0.12, beta=-4.48, p<0.001 no TUG; R2=0.08, beta=-0.29, p=0.001 no TSLC5x). No modelo múltiplo, apenas a FPM e o TUG continuaram no modelo (R2=0.42, p<0.001). CONCLUSÕES: A força isocinética do joelho está associada ao desempenho em testes funcionais em idosos. Os testes funcionais, especialmente a FPM e o TUG, juntamente com a idade demonstraram ser variáveis preditivas da força isocinética dos membros inferiores em idosos, embora expliquem no máximo 42% da variância. IMPLICAÇÕES: Estes resultados são clinicamente relevantes, uma vez que testes simples e de baixo custo têm valor potencial na avaliação da função muscular na atenção primária, especialmente quando o dinamômetro isocinético não está disponível.