Inserção de consumidores no desenvolvimento de um ensaio clínico sobre dor patelofemoral: co-design entre pesquisadores, pacientes e fisioterapeutas

Resumo

CONTEXTUALIZAÇÃO: A dor patelofemoral (DPF) é uma condição comum que compromete a qualidade de vida dos pacientes e desafia a prática clínica. Tradicionalmente, os protocolos de ensaios clínicos aleatorizados (ECA) são elaborados sem a participação direta de pacientes e profissionais, o que pode limitar sua aplicabilidade e relevância na prática real. Nesse cenário, a abordagem de co-design pode ser utilizada para integrar pesquisadores e consumidores finais (fisioterapeutas e pacientes) no desenvolvimento de pesquisas, proporcionando ideias que podem preencher lacunas entre a teoria e a prática clínica. OBJETIVOS: Realizar uma abordagem de co-design com pesquisadores, fisioterapeutas e pacientes para desenvolver um protocolo de ECA voltado ao tratamento da dor patelofemoral, garantindo que o estudo atenda às necessidades dos consumidores finais e apresente maior viabilidade de implementação na prática clínica. MÉTODOS: Foram recrutados fisioterapeutas que atenderam, no mínimo, dois pacientes com dor patelofemoral nos últimos seis meses e pacientes com diagnóstico confirmado de DPF, com intensidade de dor mínima de 3 pontos (escala 0-10) e por pelo menos três meses. A abordagem de co-design foi estruturada em quatro estágios: 1) dois pesquisadores-clínicos desenvolveram um protocolo preliminar, definindo as intervenções do ECA, desfechos clínicos e os prompts para as discussões com os consumidores; 2) Foram realizados workshops online via Google Meet com os consumidores para debater a relevância da pergunta de pesquisa, as intervenções propostas, os desfechos e a viabilidade do estudo; 3) Os feedbacks coletados foram analisados de forma iterativa e resumidos por dois pesquisadores; 4) A equipe de pesquisa revisou e incorporou as sugestões viáveis ao protocolo, registrando as mudanças implementadas. Todos os encontros foram gravados e analisados qualitativamente, garantindo a sistematização dos insights dos participantes. RESULTADOS: Participaram do co-design 4 pesquisadores, 10 fisioterapeutas e 11 pacientes. Entre as principais alterações, destacam-se a inclusão da medição da força do quadríceps com dinamômetro isocinético, a alteração do desfecho primário para avaliar a cinesiofobia em substituição à função, considerada mais alinhada às barreiras enfrentadas pelos pacientes, e a padronização dos alongamentos estáticos para a modalidade dinâmica. As sugestões dos pacientes foram integralmente adotadas (100%), refletindo a valorização da experiência do usuário, enquanto 50% das propostas dos fisioterapeutas foram incorporadas ao protocolo, priorizando aquelas com maior evidência científica e viabilidade prática. O processo permitiu adaptar o protocolo de forma colaborativa, mantendo o rigor metodológico e ampliando sua aplicabilidade clínica. CONCLUSÕES: A participação ativa de consumidores finais no desenvolvimento do protocolo possibilitou a identificação de pontos cegos e a realização de ajustes que aproximam o estudo da realidade clínica. Dessa forma, o protocolo se torna mais aplicável, relevante e alinhado às necessidades de pacientes e profissionais. IMPLICAÇÕES: A adoção do co-design como estratégia de elaboração de um ECA reforça a importância de integrar consumidores finais à pesquisa, o que pode aumentar a aderência dos pacientes, otimizar a execução dos protocolos e facilitar a tradução dos resultados para a prática clínica. Essa abordagem pode servir como modelo para futuras investigações, promovendo a realização de estudos mais centrados no paciente e com maior potencial de impacto na saúde.