CRENÇAS E PERCEPÇÕES RELACIONADAS À EXPERIÊNCIA DE MULHERES COM DOR ASSOCIADA AO INTERCURSO SEXUAL: UM ESTUDO QUALITATIVO
Abstract
Introdução: A dor crônica é um problema de saúde pública que afeta pessoas de ambos os sexos e de todas as faixas etárias. Algumas dores crônicas ainda são pouco investigadas, assim como a experiência vivida pelos pacientes. Entre essas destacamos a dor sexual. Não diferente dos outros tipos de dor, a dor sexual é multifatorial e pode estar associada à depressão, pensamentos catastróficos, ansiedade, hipervigilância a dor, incapacidade, autoimagem negativa, baixa autoestima, baixa autoeficácia, e modificações nas atividades diárias. Objetivo: Investigar a experiência de mulheres com dor sexual dentro de um modelo biopsicossocial. Métodos: Estudo qualitativo composto por mulheres com dor relacionada à atividade sexual. Foram realizadas entrevistas online semiestruturadas com perguntas abertas. A caracterização da amostra incluiu dados de identificação e características da dor. Foi utilizado o Índice de Função Sexual Feminina (IFSF) para avaliar a função sexual. A análise qualitativa e extração de códigos foi realizada através do Taguette. A análise temática dos dados considerou: 1) leitura inicial; 2) identificação preliminar de códigos; 3) alocação dos códigos nos temas; 4) revisão de temas; 5) alocação dos temas em categorias; 6) síntese final do estudo. Os dados quantitativos foram analisados pelo software JASP 0.14.1.0. Os resultados das análises estão apresentados pela análise de frequência, tendência central e dispersão. Resultados: A análise parcial do estudo incluiu 10 participantes. A média ± DP de idade das participantes foi de 26,5 ± 7,11 anos, com média de 52,40 ± 42 meses de convivência com a dor. A pontuação média no IFSF foi de 21,4 ± 3,46 pontos. O local de dor sexual mais frequente da amostra consistiu em canal vaginal (40.9%), seguido por pequenos lábios (13.6%). A experiência das participantes foram agrupadas em nove temas: (1) Histórico de dor sexual; (2) Experiência; (3) Crenças; (4) Comportamento; (5) Busca por ajuda; (6) Tratamento; (7) Relação com profissionais da saúde; (8) Facilitadores e barreiras; (9) Expectativas futuras. Apesar de 40% das mulheres terem realizado algum tipo de tratamento com o objetivo de melhora da dor, todas as participantes apresentaram crenças positivas quanto à resolução total ou parcial da queixa dolorosa. Em geral, as mulheres com dispareunia atribuíram a causa da dor à lubrificação insuficiente e traumas. Impactos negativos na relação sexual, no relacionamento e na autoestima foram as consequências mais comuns da dor. O sentimento predominante evocado pela recorrência do quadro de dor sexual foi a frustração. Conclusão: Identificou-se que o quadro álgico pode ser incapacitante e apresenta limitação funcional e restrição de atividade sexual à mulheres com dispareunia. Além disso, as crenças das mulheres indicam que elas atribuem múltiplas causas para a dor. As participantes tinham altas expectativas de melhora, entretanto, a minoria realizou algum tipo de tratamento para enfrentamento da dor.