FALTOU HIDROXICLOROQUINA PARA PACIENTES COM LÚPUS NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: UM SURVEY ONLINE
Abstract
Introdução: O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, multissistêmica, de causa desconhecida e de natureza autoimune, caracterizada pela presença de diversos auto-anticorpos. Evolui com manifestações clínicas polimórficas, com períodos de exacerbações e remissões. Apresenta manifestações musculoesqueléticas como dores articulares, musculares e edema nas articulações. A Cloroquina (CQ) e a Hidroxicloroquina (HCQ), medicamentos da classe dos antimaláricos são amplamente utilizados para pacientes com LES, pois ajudam a controlar o sistema imune, responsável por variadas manifestações clínicas da doença, além da ação anti-inflamatória diminuindo o risco de desenvolver sequelas. Objetivo: Avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 no Brasil na escassez de antimaláricos para o tratamento do LES e a associação entre a falta de medicamento e aumento dos sintomas. Métodos: Este é um estudo transversal, quantitativo que avaliou dados de voluntários com LES, que responderam a um questionário online semiestruturado, divulgado diretamente à associações de doentes com LES no Brasil, com intuito de coletar dados sociodemográficos, informações sobre a doença, uso de hidroxicloroquina (HCQ) e informações sobre COVID-19 no período de 2020 a 2022. Procedeu-se a análise estatística descritiva (média e desvios-padrão) e inferencial utilizando-se o teste Shapiro-Wilk que comprovou a normalidade dos dados e o teste Qui-quadrado para análise de associação entre as variáveis. O nível de significância de 5% foi adotado. Resultados: Foram coletados dados de 466 participantes, com média de idade de 36,8+3,5 anos, com tempo médio de diagnóstico de 12,6+2 anos, sendo a grande maioria do sexo feminino 450 (96,5%), e 183 (39,2%) com ensino superior completo. Destes, 312 (66,9%) relataram que perceberam aumento dos sintomas após o início da pandemia e distanciamento social, sendo os principais: dores articulares (70,0%), ansiedade (68,3%), fadiga (64,0%) e medo (41,6%). Do total de participantes, 443 (95%) relataram o uso de HCQ, a maioria desses indivíduos 276 (59,3%), relataram que não estavam conseguindo encontrar HCQ nas farmácias e 164 (35,2%) responderam ter percebido aumento dos sintomas após terem parado de tomar HCQ devido a insuficiência nas farmácias. A escassez de HCQ foi relatada em todas as regiões do Brasil, variando de 85,0% no Norte a 36,4% no Centro-Oeste. Os resultados apontam uma associação direta entre a escassez de HCQ e o aumento de sintomas percebidos pelos doentes (OR=4,70 / IC=2,86 -7,71). Conclusão: Mais da metade dos pacientes com LES não encontraram HCQ nas farmácias durante a pandemia de Covid-19 entre os anos de 2020 e 2022 no Brasil na amostra estudada. É possível que a interrupção no uso regular do antimalárico HCQ tenha contribuído para aumento dos sintomas percebidos por doentes com LES neste período.