O ESPAÇO E LIRISMO NA POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE

Autores

  • Alexandre Bonafim Felizardo UFTM

Resumo

Nosso objetivo será analisar os espaços na obra do poeta português Eugénio de Andrade; verificar como, na sua poesia, funcionam as diversas paragens, os diversos locais em que o eu lírico se afeiçoa e se entrega, de forma arrebatada, ao real. Nossa metodologia será a leitura analítica, pautada pelas diretrizes da topoanálise. Com efeito, a topoanálise é o seguimento da crítica que se atém ao estudo do espaço na literatura. Para tanto, tal referencial teórico detém-se a todo e qualquer espaço expresso no texto literário, verificando os sentidos simbólicos da espacialidade, a função que ela ganha na obra. Após prévias leituras, chegamos a alguns resultados e verificações. Na poesia de Eugénio de Andrade, os espaços sofrem uma espécie de exaltação, de concentração, tornando-se “centros de vida”, conforme as palavras de Bachelard. Nesses lugares de predileção, nesses ambientes de existência concentrada, o drama humano irá se desenrolar, ganhando conotações simbólicas e metafóricas. Dessa forma, a natureza e a cidade serão mais que meros cenários; eles tornar-se-ão receptáculos das indagações do sujeito lírico, “correlatos objetivos” (conforme expressão de Eliot) do drama espiritual do eu poético. Com efeito, Eugénio enraíza seus assombros, seus alumbramentos, na materialidade dos elementos físicos. Terra, água, ar e fogo são símbolos imantados por um estado anímico perplexo, elétrico, pulsante de erotismo e vida. O espaço, assim, com toda a sua concretude, é perscrutado por um eu lírico a se indagar pelo sentido da vida humana no aqui e no agora. Em sua arrebata paixão pelo real, Eugénio irá delinear uma incansável busca pelas formas do mundo sensível, empreendendo uma mimese do mundo, em que os objetos, lugares e seres tornam-se surpreendentes, densos, feéricos. Para o poeta português, parodiando Novalis, na poesia, quanto mais fidelidade ao real, mais o mundo se torna poético, fantástico. Dessa maneira, por essa intensificação existencial dos espaços, palcos do drama humano, o autor irá desvelar o sagrado, o erotismo, o tempo forte do mito, conforme propostas de Mírcea Eliade. Eugénio de Andrade, portanto, descende da linhagem dos poetas videntes, dos poetas proféticos e intuitivos, para os quais a arte poética é um fecundo mergulho nas pulsões vitais e na concretude viva do cosmos. 

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