A HETEROTOPIA DO CEMITÉRIO NO ROMANCE ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS

Autores

  • Ana Carla Carneiro Rio UFTM

Resumo

O romance Úrsula de Maria Firmina dos Reis foi escrito após a “independência” do Brasil. O país não se apresentava totalmente ruralizado, pois se iniciava o processo de industrialização, o desejo de abolir a escravidão e construção de uma república. Um traço marcante na obra é a preocupação com a paisagem, lugares, espaços, enfim o modo de descrever a nação, que o narrador suscita como características que deixa o homem ameno e o torna feliz. Os espaços na obra são descritos numa visão ufanista e amorosa, denotando um forte sentimento de “brasilidade”. O texto literário problematiza temáticas como a igualdade social, de raças e gênero. Os espaços no romance possibilitam ações que caracterizam o perfil das personagens, o espaço natural que é característica marcante na obra corrobora com os sofrimentos e alegrias das personagens. A natureza representa o espaço da criação divina e lugar onde guarda os segredos da protagonista. No decorrer da narrativa esse espaço “ruralizado”, abrigo, refúgio da protagonista é quebrado pela presença de um caçador tirano, desse modo, o que era ambiente de meditação e acolhimento, torna-se sombrio. Vários são os espaços heterotópicos presentes na obra. Para Foucault, a heterotopia seria esse espaço do desassossego, “tem o poder de justapor, em um só lugar real, vários espaços, vários posicionamentos que são em si próprios incompatíveis” (FOUCAULT, 2001: 418). O cemitério é um deles. É um lugar diferente dos outros espaços sociais, é uma heterotopia, pois causa inquietação, angústia, ou seja, um lugar real que denota o surgimento de outros espaços.  O narrador define esse espaço como “cidade da morte”, “lugar do esquecimento eterno”, “última morada do homem”, espaço onde é guardado todos os segredos do morto. 

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