Por uma educação linguística Translíngue e Decolonial: questões para o ensino de alemão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18554/ifd.v7i4.5200

Palavras-chave:

Educação Linguística, Translinguismo, Decolonialidade, Pós-Método, Alemão como Língua Estrangeira.

Resumo

Neste artigo, defende-se a substituição de muitas práticas de ensino de alemão já consolidadas no Brasil pela educação linguística crítica em alemão. Primeiro, revisita-se o lugar ocupado pela língua alemã na história do Brasil desde 1824, passando por todas as mudanças nas leis que regem o ensino de línguas nas escolas até chegar ao estágio da globalização em que estamos hoje, argumentando que a língua alemã, apesar de ocupar uma posição global hegemônica, não desfruta do status de língua hegemônica no Brasil. Então, é apresentada a definição daquilo que se entende por línguas enquanto invenção da colonialidade europeia, definição essa contrastada com os conceitos de decolonialidade e translinguismo, sempre com o objetivo de estabelecer um diálogo entre esses conceitos e o ensino de alemão no Brasil. Discute-se ainda a concepção de colonialidade linguística, num esforço de explicitar sua forte presença nas práticas de ensino de línguas no Brasil. A partir de definições dos termos educação e ensino, chega-se a uma definição de educação linguística. A quarta seção apresenta provocações práticas para a educação linguística em alemão para o povo brasileiro, e as considerações finais reforçam que uma tal educação linguística só pode ser construída a partir de uma perspectiva translíngue e decolonial.

Biografia do Autor

Marina Grilli, Faculdade de Educação da USP - FEUSP

Mestra em Letras/Alemão e Doutoranda em Educação pela USP

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Publicado

2021-01-25

Edição

Seção

Lições do expresso do oriente: metodologias de ensino de línguas não-hegemônicas no Brasil