MEMÓRIA: UMA INTERSECÇÃO ENTRE SER E ESCREVER EM LES RÊVERIES DU PROMENEUR SOLITAIRE

Resumo

O presente artigo fundamenta-se na análise da obra Les rêveries du promeneur solitaire de Jean-Jacques Rousseau, a partir do tema da memória, com a finalidade de verificar como se manifesta esse tema nessa que é uma das obras inaugurais do pré-romantismo francês. Com a linguagem e a visão de mundo centradas no egotismo, na sensibilidade, no gosto pela solidão e pelo devaneio, o filósofo busca, através da memória, escapar da morte. Para não se manter no anonimato, escreve suas memórias; revive, nasce para a sociedade que tanto o atormentou. Fixando-se pela escrita, o cidadão de Genebra intenta duplicar sua existência e voltar aos tempos de felicidade duradoura anteriormente vivenciados. Baseando-se nos trabalhos de importantes teóricos da memória e, realizando um percurso temporal pelos estudos da memória, pretende-se desenvolver a análise do texto a partir das teorias de Santo Agostinho, Maurice Halbwachs, Pierre Nora, finalizando com os estudos desenvolvidos por Sigmund Freud. No decurso dessa análise, procurar-se-á violar as barreiras que afastam as teorias da memória individual das teorias de memória coletiva, evidenciando, como sugere Paul Ricoeur em A memória, a história, o esquecimento (1913), a importância do outro psicossocial na reconstituição das nossas próprias lembranças.