Veinkupri Hã: o ensino Kaingang / Veinkupri Hã: the Kaingang learning

Autores

  • Juliana Dal Ponte Tiveron USP
  • José Francisco Miguel Henriques Bairrão USP

DOI:

https://doi.org/10.18554/cimeac.v7i1.2217

Resumo

A atual política escolar indígena, norteada pelo modelo da educação diferenciada, garante o ensino da cultura indígena na escola, sobretudo o ensino da língua nativa. Contudo, este modelo tem reduzido algumas vezes, a alfabetização na língua indígena como sendo o equivalente ao ensino da cultura indígena. Embora não siga o modelo de educação diferenciada, já que seus membros não estão filiados à escola indígena do Território Indígena (T.I.) Vanuíre (pertencente ao município de Arco-Íris no estado de São Paulo), o Grupo de Cultura Kaingang tem respondido a esses desafios através do agir dos Veinkupri Hã ou espíritos dos mortos bons (guerreiros guardiões da cultura Kaingang). Para investigar como esse ensino tem sido retomado pelos membros do Grupo de Cultura Kaingang do T.I. Vanuíre, assim como o que ele elege manter e o que elege mudar da tradição, utilizou-se o método psicanalítico agregando-lhe procedimentos etnográficos (escuta participante). O ensino pautado pelos Veinkupri Hã contempla a totalidade do corpo e, por isso, não prioriza a esfera cognitiva ou representacional em voga na Educação. Antes, visa o preparo e fortalecimento do corpo da criança para que ela consiga agir conforme os espíritos dos mortos bons, buscando a consolidação de uma alma indígena atuante. A criança aprende a respeitar e a se comunicar com os Veinkupri Hã por meio da expressão em si mesma de um espírito guerreiro. Embora tradicionalmente os Kaingang evitassem os mortos, o Grupo de Cultura Kaingang mantém a comunicação com eles para combater as subjugações históricas e contemporâneas que os destinam a não ser quem são. Deste modo, evidencia-se a impossibilidade de desvincular o ensino cultural do ensino espiritual indígena. O Grupo de Cultura Kaingang provoca a sociedade brasileira a repensar suas políticas públicas versadas à Educação. Na busca por uma educação intercultural não há como deixar de fora o âmbito espiritual dos povos indígenas.

Palavras-chave: Educação diferenciada; Povos indígenas; Etnopsicologia.

 

ABSTRACT: The current indigenous school policy, guided by the model of differentiated learning, guarantees the teaching of indigenous culture in school, especially the teaching of the native language. However, this model has sometimes reduced literacy of indigenous culture in the indigenous language learning. Although it does not follow the model of differentiated learning, since its members are not affiliated to the indigenous school of the Indigenous Territory (Território Indígena, TI) Vanuíre (belonging to the city of Arco-Íris in the state of São Paulo, Brasil), the Kaingang Culture Group has responded to these challenges through the action of the Veinkupri Hã, spirits of honorable deceased Kaingang (guardian warriors of the Kaingang culture).To investigate, as this teaching has been taken up by members of the Kaingang Culture Group of TI Vanuíre, as well as what it elects to maintain and what it chooses to change from tradition, the psychoanalytic method was used by adding ethnographic procedures (participant listening). In order to investigate how this teaching has been taken up, by members of the Kaingang Culture Group of TI Vanuíre, as well what it chooses to maintain and what it chooses to change from the tradition, the psychoanalytic method with ethnographic tools has been applied (participant listening). The teaching guided by the Veinkupri Hã includes the totality of the body and, therefore, does not prioritize the cognitive or representational sphere. Its purpose is to strengthen the child’s body so that it acts according to the honorable deceased Kaingang, seeking the consolidation of an active indigenous soul. The child learns to respect and communicate with the Veinkupri Hã through the manifestation of a warrior spirit. Although the Kaingang people have traditionally avoided the dead, the Kaingang Culture Group maintains communication with them to counter the historical and contemporary subjugations that aim them to not be who they are. Thus, it is evident that it is impossible to disassociate cultural teaching from indigenous spiritual teaching. The Kaingang Culture Group encourages Brazilian society to rethink its public policies to education. In the search for an intercultural education there is no way to leave out the spiritual scope of the indigenous peoples.

Keywords: Differentiated learning; Indigenous peoples; Ethnopsychology.

Biografia do Autor

Juliana Dal Ponte Tiveron, USP

USP

José Francisco Miguel Henriques Bairrão, USP

Docente da USP.

Downloads

Publicado

2017-07-11