DOSSIÊ: Exercícios de escrita sobre metodologias de ensino da Língua Portuguesa no Brasil e em Angola

Autores

  • Marinalva Vieira Barbosa Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM
  • José Antônio Vieira
  • Arlinda Conceição Santos

DOI:

https://doi.org/10.18554/ifd.v7i1.4615

Resumo

Este dossiê registra um movimento de escrita que foi desenvolvido ancorado na concepção de que o domínio, o trânsito pelos universos da linguagem escrita é ato fundamental e constitutivo do conhecimento, por isso é um direito que deve ser garantido àqueles que buscam aprender porque ocupam ou pretendem ocupar a posição professor.

Trata-se de um dossiê composto por escritos de alunos do Mestrado Profissional em Letras da UFTM, do Mestrado em Língua Portuguesa e Mestrado em Ensino Primário do Instituto Superior de Ciências da Educação do Cuanza Sul, localizado na Cidade do Sumbe, em Angola.

A escrita na universidade não está dada para a graduação e, considerando o nível esperado, também não está para pós-graduação. Embora a concepção predominante ainda seja a de que o aluno que chega na universidade, principalmente na pós graduação, deve saber escrever, deve apresentar conhecimento proficiente sobre a forma composicional dos gêneros acadêmicos, a vivência da orientação tem demonstrado que não.

Nas nossas experiências, como orientadores, nas disciplinas que ministramos, nas bancas de mestrado e doutorado, nos seminários de pesquisas, temos acompanhado, pesquisado e debatido tais dificuldades. A escrita que nos chega por esses espaços mostram um aluno que geralmente respondem às demandas de escrita por meio de textos marcados por uma linguagem que é pura reprodução do já dito ou então são escritos pessoais, relatos do vivido, mas desconectados de uma problematização e entrelaçamento com os objetivos da escrita.

Nas situações descritas, a escrita é destituída de marcas, indícios que materializam seu pensamento, seus posicionamentos com relação ao tema pesquisado e escrito. Isso ocorre porque a produção de um texto exige um saber trabalhar com os recursos linguísticos e extralinguísticos. O saber da língua, do seu funcionamento na relação com os saberes que estão para além da língua, constitui-se como o grande desafio do aprendizado da escrita acadêmica, a escrita proficiente, que sustente um nível já avançado de manejo. 

Para produzir uma dissertação ou um artigo, por exemplo, há o conhecimento necessário sobre a forma composicional desses gêneros, mas há também a necessidade de saber tecer a escrita, tecer a linguagem considerando o que se busca dizer, os interlocutores e, principalmente, a razão para se dizer. Esta envolve um posicionar, um construir o dizer para além da repetição. A razão para dizer não pode, para se pensar uma escrita constitutiva do conhecimento, ser movida pela obrigação de produzir um artigo para conclusão de uma disciplina ou mesmo para a conclusão do curso. A escrita precisa registrar uma necessidade muito própria de dizer algo sobre um determinado tema.

É a partir dessa concepção que desenvolvemos o movimento de escrita dos textos publicados neste dossiê. Os alunos do Profletras da UFTM produziram os artigos publicados aqui no âmbito da disciplina Texto e ensino. Já os alunos dos Mestrados do ISCED produziram as versões iniciais dos artigos para conclusão das disciplinas que enfocavam a didático do ensino da língua portuguesa.

Entre a primeira versão, produzida para conclusão das disciplinas, e as versões publicadas neste dossiê, passou um ano de trabalho. No caso dos mestrandos de Angola, o trabalho de escrita iniciou em maio de 2019, na conclusão de duas disciplinas sobre didática da língua portuguesa e didática do ensino da língua portuguesa. A partir de um roteiro, elaboraram uma pequena pesquisa, selecionaram os dados e deram os primeiros passos de análise. Cabe destacar que a formação de base desses mestrandos são várias (poucos tem formação na área de Letras). Isso tornou ainda mais desafiante o trabalho de escrita.

Cada texto elaborado para a conclusão das disciplinas nos mestrados do ISCED, no decorrer de 2019 e 2020, foi lido pelos docentes das disciplinas e devolvido para novas reescritas. Após esse movimento, formaram-se os grupos de escrita do artigo para este dossiê. Novas leituras, novos pareceres foram emitidos, novas reescritas foram solicitadas. Neste caso, os objetivos foram sempre melhorar e não reprovar dos textos apresentados. Após, esse segundo movimento de leitura e reescrita, os artigos dos grupos foram submetidos a uma terceira leitura e, consequentemente, novas reescritas foram solicitadas.

Com os mestrandos do Profletras, movimento similar foi realizado. A construção de um problema de ensino da escrita, análise de produção, elaboração de uma proposta de ensino, produção de uma reflexão na escrita do artigo para conclusão do curso. Após leitura desta versão, reescritas foram solicitadas.

Para os três grupos de mestrandos, o que se buscou demonstrar foi a necessidade de aliar a escrita a uma pesquisa, a um problema e a uma reflexão. E, principalmente, aliar a escrita a concepção de trabalho, árduo, que envolve muitas idas e vindas, movimentos de reescritas.  Em todo esse processo, a preocupação central foi possibilitar que os mestrandos angolanos e brasileiros compreendessem o aprendizado da escrita envolve a construção e a produção de conhecimento sobre o tema que se deseja abordar. É que essa produção de conhecimento se dá no ato mesmo da escrita, enquanto um trabalho constitutivo da escrita e do sujeito que a produz, ao mesmo tempo, no mesmo ato. Escrita e experiência da escrita: esse o saber que procuramos construir.  

Biografia do Autor

Marinalva Vieira Barbosa, Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

Professora Adjunta IV do Departamento de Linguística e Língua Portuguesa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Possui graduação em Letras (1999) e Especialização em Leitura e Produção de Textos (2000) pela Universidade Federal de Rondônia-UNIR. Mestrado (2004) e Doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (2008) - este com Estágio no Laboratório ICAR (Interactions, Corpus, Apprentissages, Représentations), ligado à Université Lyon 2 e a Ecole Normale Superieure de Sciences Humaines et Lettres de Lyon – L’ENS LSH. Fez pós-doutorado na Faculdade de Educação da Unicamp (2009).  É organizadora de livros sobre leitura, escrita e ensino de língua portuguesa. Foi coordenadora institucional do Pibid no período de 07/2011 a 08/2015, docente permanente do Programa de Mestrado em Educação e do Profletras da UFTM. Tem experiência na área de Linguística e Educação, com ênfase em Análise do Discurso e Metodologias de Ensino da Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino-aprendizagem da escrita e leitura; formação de professores.

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Publicado

2020-06-04