A emergência das licenciaturas em Ciências Naturais no Brasil: discursos, políticas e a produção de identidades docentes

Resumo

Este artigo tem como objetivo mapear e caracterizar a oferta dos cursos de Licenciatura em Ciências Naturais (LCN) no Brasil, compreendendo as condições de possibilidade que propiciaram sua emergência, especialmente a partir dos anos 2000. A partir de uma abordagem teórico-metodológica fundamentada na perspectiva discursiva e no ciclo contínuo de produção de políticas, o estudo analisa os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) como híbridos discursivos, atravessados por múltiplos contextos, de influência, de produção e de prática, que reconfiguram sentidos sobre a formação docente. O trabalho busca tensionar os efeitos de verdade que sustentam sua institucionalização e os modos de subjetivação que produzem o professor de Ciências nos anos finais do Ensino Fundamental. A pesquisa evidenciou que os discursos sobre interdisciplinaridade e integração curricular, fortemente influenciados pelas políticas educacionais contemporâneas, têm operado como dispositivos que justificam e moldam a existência das LCNs. Em diálogo com autores como Foucault, Butler, Barad e Hacking, argumenta-se que as LCNs não apenas respondem a demandas formativas, mas instauram um regime discursivo que define o que é ensinar Ciências e quem é o sujeito legítimo para esse ensino. Assim, entende-se a emergência das LCNs com um fenômeno político e cultural que deve ser compreendido a partir das disputas em torno do currículo, da disciplina escolar Ciências e da identidade docente que dela emerge.