Sou mais macho que muito homem: discurso, resistência e processos de constituição do feminino na música Pagu

Resumo

O objetivo deste trabalho consiste em fazer o uso da materialidade musical como fonte de significações. Os estudos estão atrelados à AD Pecheutiana, na perspectiva de que os discursos, que se materializam na música, carregam o poder de expressão histórico-social em múltiplos aspectos, dentre eles as questões de dominação e suas contraposições em relação às figuras femininas, expressando o imaginário cristalizado socialmente para elas e as resistências contra isso. A justificativa parte do pressuposto de que muitos compositores utilizam desse veículo para manifestar inquietações, carregadas de efeitos de sentido a serem melhor analisados. Para tanto, adotamos uma metodologia que mobiliza o a) processo de estranhamento em relação a uma obviedade materializada na língua, b) desuperficialização da materialidade significante, seguida do c) batimento entre descrição e interpretação, conforme indicam Pêcheux e Fuchs (1990).  O objeto de estudo é “Pagu”, canção de Rita Lee e Zélia Duncan. A natureza da pesquisa é bibliográfica, havendo levantamentos dos textos de Leandro-Ferreira (2013), Orlandi (2016) e Pêcheux (2014). Os resultados apontam para os atravessamentos das FDs religiosa, patriarcal e moralista na canção, de modo que o enlace entre esses domínios distintos constitui, em si, o tropo que torna a interpretação sobre Pagu possível.