Ensino de Biologia em contextos de (in)justiças socioambientais e do antropoceno

o direito da natureza para desenfurnar os currículos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18554/rt.v18iEsp.1.7956

Palavras-chave:

Ensino de Biologia, Justiça Ambiental, Direitos da Natureza, Antropoceno

Resumo

Sendo um conceito em disputa, a ideia de Natureza tem seus antecedentes numa perspectiva antropocêntrica, e quando lhe atribuem direitos, proveniente de outras cosmovisões, deve ser redefinida para se deslocar em direção ao biocentrismo. O reconhecimento de valores próprios e a atribuição de direitos modificam o sentido que se dá ao sujeito que os recebe, incorporando também outros saberes e sentimentos. Este ensaio teórico, tece diálogos pensando no papel do ensino de Biologia, frente às (in)justiças ambientais, a partir das relações entre as vulnerabilidades socioambientais e as questões raciais, e que aparentemente encontram-se dissociadas no currículo de biologia, em uma “dupla fratura” e o caráter antropocêntrico que envolve os termos justiça e Natureza, onde a justiça é predominantemente entendida como assunto entre humanos e a Natureza é o campo no qual a atividade humana, para além da objetificação, reforça a compreensão da existência de justiça ambiental para fins apenas da espécie humana. Em articulação com a racialidade, a colonialidade e o biocentrismo, o objetivo deste foi enfatizar a necessidade de outros modos de pensar a justiça ambiental reposicionando o papel do ensino de biologia para uma educação para a justiça social e a justiça da Natureza.

Biografia do Autor

  • Danilo Seithi Kato, Universidade de São Paulo

    Professor Doutor na Universidade de São Paulo (USP), no Departamento de Educação, Informação e Comunicação - DEDIC. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (2003), Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (2008), e Doutorado no programa de Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, na linha de pesquisa de formação de professores. É credenciado, como professor permanente, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP (Campus Rio Claro/SP) na linha de pesquisa em Educação Ambiental; e no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFTM, na linha de pesquisa Fundamentos e práticas educacionais. É editor da revista acadêmica Cadernos CIMEAC (ISSN 2178-9770). Também é líder do grupo de estudo e pesquisa em interculturalidade e educação em ciências (GEPIC) grupo cadastrado no diretório CNPq (1077027025252244) e participa dos grupos como pesquisador no A Temática Ambiental e o Processo Educativo, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; e do Diversa (UFAM). Tem experiência na área de Educação, com ênfase na formação de professores atuando principalmente nos seguintes temas: educação popular; educação em ciências; educação ambiental; educação do campo; interculturalidade. (Texto informado pelo autor)

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Publicado

2025-09-09

Como Citar

COSTA, Emylia Angelica; KATO, Danilo Seithi. Ensino de Biologia em contextos de (in)justiças socioambientais e do antropoceno: o direito da natureza para desenfurnar os currículos. Revista Triângulo, [S. l.], v. 18, n. Esp.1, p. e025022, 2025. DOI: 10.18554/rt.v18iEsp.1.7956. Disponível em: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/revistatriangulo/article/view/7956. Acesso em: 6 dez. 2025.