UM MAPEAMENTO FUNCIONAL DAS CLÁUSULAS TEMPORAIS: VARIAÇÃO, PROCESSAMENTO E CODIFICAÇÃO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18554/it.v14i1.4834

Palavras-chave:

Cláusulas Temporais, Funções textual-discursivas, Variação, Processamento e codificação, Sociofuncionalismo.

Resumo

Neste artigo, sob orientação sociofuncionalista (FREITAG, 2009, 2011), em direção função > forma, tratamos das funções textual-discursivas de cláusulas temporais, considerando-se, principalmente, a variação na ordenação em relação à porção textual que tais cláusulas escopam. Demonstramos, via análise de 783 dados reais, provenientes de 24 entrevistas do Corpus Sociolingüístico de la Ciudad de México (CSCM), que a ordem decorre de restrições de processamento, especialmente relacionadas à iconicidade (GIVÓN, 1995, 2001a) e à saliência perceptual/relevo discursivo (HOPPER; THOMPSON, 1980), as quais consideramos essenciais para explicar fenômenos em variação-mudança. Consoante Labov (1978), estreitar o contexto de variação pressupõe um levantamento prévio de todos os contextos de uso de determinada forma. A partir dessa orientação, uma interface entre Sociolinguística e Funcionalismo pode centrar-se no detalhamento de cada um desses contextos, observando restrições à variação. A análise revelou a existência das seguintes funções das Temporais, que, segundo os resultados, podem servir à hipotaxe, ao encaixamento e à justaposição (LIMA-HERNANDES, 2004): fundo guia/ orientação, ponte de transição, fundo moldura, fundo avaliativo, fundo finalidade, fundo comparativo-modal, fundo delimitação, fundo completivo, fundo identificativo, fundo especificador nominal, fundo reparo/reformulação e figura. Notamos que tais funções facilitam ou bloqueiam a variação posicional da cláusula em relação à nuclear e, quando há especialização (HOPPER, 1991) de função discursiva, a Temporal tende a fixar-se à margem direita do complexo sentencial, em posposição. Percebemos também que tempo pode, em instâncias mais abstratas, expressar relações textuais (TRAUGOTT; HEINE, 1991) ou qualificação (HEINE et alii, 1991).

Biografia do Autor

Sávio André de Souza Cavalcante, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

Doutor em Linguística (PPGL/UFC). Professor de Língua Portuguesa e Língua Espanhola (IFCE). Professor do Instituto UFC Virtual/Universidade Aberta do Brasil, no curso de graduação Letras-Português. Graduado no Curso de Letras - Português, com habilitação em Língua Espanhola (UFC). Pesquisador nos Grupos Pesquisas Sociolinguísticas (SOCIOLIN - CE), Pesquisas Sociolinguísticas em Língua estrangeira (SOCIOLIN-LE) e PROTEXTO (UFC). Temas/áreas de interesse: articulação de orações, funcionalismo norte-americano e sociolinguística variacionista.

Márluce Coan, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e Professora do Departamento de Letras Vernáculas e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará – UFC. É também bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 2. Coordena os grupos de pesquisa SOCIOLIN-CE (Grupo de Pesquisas Sociolinguísticas do Ceará) e SOCIOLIN-LE (Grupo de Pesquisas Sociolinguísticas em Língua Estrangeira). Atualmente, desenvolve pesquisa de Pós-doutorado na Universidade de Santiago de Compostela/USC. Áreas de atuação: Sociolinguística, Sociofuncionalismo e Linguística Histórica.

Referências

CAVALCANTE, Sávio André de Souza. Análise sociofuncionalista da ordenação de cláusulas hipotáticas adverbiais temporais no Espanhol mexicano oral. 2015. 182 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2015. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/12620?mode=full. Acesso em: 04 jun. 2020.

CAVALCANTE, Sávio André de Souza. Efeitos prototípicos da intercalação de Cláusulas Hipotáticas Circunstanciais Temporais no Espanhol mexicano oral. 2020. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro de Humanidades, Programa de pós-graduação em Linguística, Universidade Federal Ceará, Fortaleza, 2020. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/51477. Acesso em: 13 jul. 2020.

CAVALCANTE, Sávio André de Souza; RODRIGUES, Violeta Virginia. A Estrutura Argumental Preferida de Cláusulas Hipotáticas Circunstanciais Temporais desgarradas em memes quando. Gragoatá, Niterói, v. 23, n. 46, p. 518-543, maio-ago. 2018. Disponível em: https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33588. Acesso em: 20 abr. 2020.

CHAFE, Wallace L. How People Use Adverbial Clauses. Annual Meeting of the Berkeley Linguistics Society, [S.l.], p. 437-449, oct. 1984. Disponível em: https://journals.linguisticsociety.org/proceedings/index.php/BLS/article/view/1936. Acesso em: 16 set. 2017.

COMRIE, Bernard. Tense. 4. Ed. Cambrigde: Cambridge University Press, 1990.

DECAT, Maria Beatriz Nascimento. A articulação hipotática adverbial no português em uso. In: DECAT, Maria Beatriz Nascimento; SARAIVA, Maria Elizabeth Fonseca; BITTENCOURT, Vanda de Oliveira; LIBERATO, Yara Goulart (Orgs.). Aspectos da gramática do português: uma abordagem funcionalista. 1. ed. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2001, v. 5. p. 103-166.

DI TULLIO, Ángela. Manual de gramática del español – Desarrollos teóricos. Ejercicios. Soluciones. Buenos Aires: Edicial, 1997.

DIESSEL, Holger. The ordering distribution of main and adverbial clauses: a typological study. Language, v. 77, n. 3, p. 433-455, set. 2001.

DIK, Simon Cornelis. The theory of functional grammar – Part 1: The structure of the Clause. 2. ed. rev. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 1997a.

DIK, Simon Cornelis. The theory of functional grammar – Part 2: Complex and derived constructions. 2. ed. rev. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 1997b.

DUBOIS, J. W. Competing motivations. In: HAIMAN, J. (ed.). Iconicity in syntax. Amsterdam: John Benjamins, 1985. p. 343-365.

DUBOIS, Sylvie; VOTRE, Sebastião Josué. Análise modular e princípios subjacentes do funcionalismo linguístico. In: VOTRE, Sebastião Josué (Org.). A construção da gramática. Niterói: Editora da UFF, 2012. p. 49-71.

FORD, Cecilia. Overlapping relations in text structure. In: ANNUAL MEETING OF THE PACIFIC LINGUISTICS CONFERENCE, 2., 1986, Oregon. Proceedings... DELANCEY, Scott; TOMLIN, Russell S. (Eds.). Oregon: University of Oregon, Dept. of Linguistics, 1987.

FREITAG, R. M. K. Problemas teórico-metodológicos para o estudo da variação linguística nos níveis gramaticais mais altos. Matraga, Rio de Janeiro, v. 16, p. 115-132, 2009. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/27799. Acesso em: 04 jun. 2020.

FREITAG, R. M. K. Variação em categorias verbais: correlações entre forma e função. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 40, p. 1121-1132, 2011. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/estudos-linguisticos/article/view/1365. Acesso em: 04 jun. 2020.

FREITAG, R. M. K.; GONCALVES, S. C. L. Da forma para função ou da função para forma? Guavira Letras, v. 12, p. 85-104, 2011. Disponível em: http://websensors.net.br/seer/index.php/guavira/article/view/188. Acesso em: 04 jun. 2020.

GARCÍA FERNÁNDEZ, Luis. Los complementos adverbiales temporales. La subordinación temporal. In: BOSQUE MUÑOZ, Ignacio; DEMONTE BARRETO, Violeta (Dirs.). Gramática Descriptiva de la Lengua Española – Las construcciones sintácticas fundamentales. Relaciones temporales, aspectuales y modales. Madrid: Espasa Calpe, S. A., 1999. v. 2. p. 3129-3208. (Colección Nebrija y Bello).

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.

GILI GAYA, Samuel. Curso Superior de Sintaxis Española. Barcelona: Bibliograf, S.A.,

GIVÓN, Talmy. Functionalism and grammar. Philadelphia: J. Benjamins, 1995.

GIVÓN, Talmy. Syntax: An Introduction – Volume I. Amsterdam: J. Benjamins, 2001a.

GIVÓN, Talmy. Syntax: An Introduction – Volume II. Amsterdam: J. Benjamins, 2001b.

GÖRSKI, Edair Maria; TAVARES, Maria Alice. O objeto de estudo na interface variação-gramaticalização. In: BAGNO, Marcos; CASSEB-GALVÃO, Vânia Cristina; REZENDE, Tânia Ferreira. (org.). Dinâmicas funcionais da mudança linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2017. p. 35-63.

GUY, Gregory Riordan; ZILLES, Ana. Sociolinguística Quantitativa: instrumental de análise. São Paulo: Parábola, 2007.

HALLIDAY, Michael Alexander Kirkwood. An introduction to functional grammar. Australia: Edward Arnold, 1985.

HEINE, Bernd; CLAUDI, Ulrike; HÜNNEMEYER, Friederike. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago: The University of Chicago Press, 1991.

HOPPER, Paul J. On some principles of grammaticization. In: TRAUGOTT, Elizabeth Closs; HEINE, Bernd (eds.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: John Benjamins, 1991, v. 1. p. 17-36.

HOPPER, Paul; THOMPSON, Sandra. Transitivity in Grammar and Discourse. Language, v. 56, n. 2, p. 251-299, 1980. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/413757?seq=1. Acesso em: 04 jun. 2020.

HOPPER, Paul; TRAUGOTT, Elizabeth Closs. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

LABOV, William. Where does the Linguistic variable stop. A response to Beatriz Lavandera. Sociolinguistic Working Paper, Texas, n. 44, p. 1-22, 1978.

LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre e Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972].

LABOV, William; WALETZKY, Joshua. Narrative analysis: oral versions of personal experience. In: HELM, June. (ed.). Essays on the verbal and visual arts. Seattle: University of Washington Press, 1967. p. 12-44.

LAVANDERA, B. Where does the sociolinguistic variable stop? Language Society, n. 7, p. 171-182, 1978.

LIMA-HERNANDES, Maria Célia. Estágios de gramaticalização da noção de tempo – processos de combinação de orações. Veredas, Juiz de Fora, v. 8, n.1 e n. 2, p. 183-194, jan./dez. 2004. Disponível em: https://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/cap12.pdf. Acesso em: 13 jul. 2020.

MARCHON, Amanda Heiderich. As teias da argumentação: um estudo de interface sintático-discursivo da hipotaxe circunstancial. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. 165 p. Disponível em: http://www.posvernaculas.letras.ufrj.br/images/Posvernaculas/4-doutorado/teses/2019/TESE-AMANDA%20HEIDERICH%20MARCHON.pdf. Acesso em: 16 jul. 2020.

MATTE BON, Francisco. Gramática Comunicativa del Español – Tomo I – De la lengua a la idea. Madrid: Difusión, 1992a.

MATTE BON, Francisco. Gramática Comunicativa del Español – Tomo II – De la idea a la lengua. Madrid: Difusión, 1992b.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP, 2000.

NEVES, Maria Helena de Moura. Texto e gramática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2013.

NICHOLS, Johanna. Functional theories of Grammar. Annual Review of Anthropology, v. 13, p. 97-117, 1984.

NOGUEIRA, Márcia Teixeira. A aposição não-restritiva em textos do português contemporâneo escritos no brasil. 1999. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita, São Paulo, 1999.

POBLETE BENNETT, María Teresa. Los marcadores discursivo-conversacionales en la construcción del texto oral. Onomazein, Santiago, v. 2, p. 67-81, 1997. Disponível em: http://onomazein.letras.uc.cl/Articulos/2/2_Poblete.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020.

PRINCE, E. The ZPG letter: Subjects, Definiteness, and Information Status. In: THOMPSON, S.; MANN, W. (Eds.). Discourse Description: Diverse Analyses of a Fund Raising Text. Philadelphia: John Benjamins, 1992. p. 295-325.

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Nueva gramática de la lengua española: manual.

Madrid: Asociación de Academias de La Lengua Española, 2010. 993 p.

RICHARDSON, Roberto Jarry et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. 14. reimpr. São Paulo: Atlas, 2012.

SECO, Rafael. Manual de gramática española. 11. ed. 4. reimp. Madrid: Aguilar, 1996.

SILVA, Alexsandra Ferreira da. A gramaticalidade da expressão “foi quando”. Entrepalavras, Fortaleza, ano 4, v. 4, n. 1, p. 99-117, jan./jun. 2014. Disponível em: http://www.entrepalavras.ufc.br/revista/index.php/Revista/article/view/342. Acesso em: 16 jul. 2020.

SOUZA, Maria Suely Crocci de. O papel discursivo e coesivo das orações temporais. In: NEVES, Maria Helena de Moura (org.). Descrição do Português: definindo rumos de pesquisa. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2001. p. 67-78.

SOUZA, Maria Suely Crocci de. Menino saía da praça quando foi atingido por uma bala perdida: a cláusula temporal atípica. Estudos Linguísticos, n. 35, p. 1413-1422, 2006.

TAVARES, Maria Alice. A gramaticalização de E, AÍ, DAÍ e ENTÃO: estratificação/variação e mudança no domínio funcional da sequenciação retroativo-propulsora de informações – um estudo sociofuncionalista. 2003. 307 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

TRAUGOTT, Elizabeth Closs; HEINE, Bernd (eds.). Approaches to grammaticalization. Amsterdã: John Benjamins, 1991, v. 1.

Downloads

Publicado

2021-09-11

Como Citar

CAVALCANTE, S. A. de S.; COAN, M. UM MAPEAMENTO FUNCIONAL DAS CLÁUSULAS TEMPORAIS: VARIAÇÃO, PROCESSAMENTO E CODIFICAÇÃO. Revista InterteXto, Uberaba, v. 14, n. 1, p. 117–145, 2021. DOI: 10.18554/it.v14i1.4834. Disponível em: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/intertexto/article/view/4834. Acesso em: 5 nov. 2024.

Edição

Seção

ARTIGOS (Temática: "Perspectivas sociolinguísticas sobre a língua espanhola”)